Saúde em Pelotas
Diagnóstico de tuberculose precisa avançar em UBSs
É o que indica uma pesquisa feita pelo curso de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Gustavo Mansur -
Professora Roxana Cardozo (D) coordenou o estudo (Foto: Gustavo Mansur - DP)
Como um dos 15 municípios considerados prioritários dentro do Estado para ações de combate à tuberculose, Pelotas ainda tem o que avançar no que diz respeito à detecção de casos da patologia na rede básica de saúde. É o que indica uma pesquisa feita pelo curso de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), sob coordenação da professora Roxana Cardozo. Falta de uma padronização de atendimento e de materiais específicos para estes casos está entre os problemas.
A pesquisa, realizada entre dezembro de 2012 e 2015, coletou dados em 50 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) tanto para conhecer o procedimento aplicado por estas e sua infraestrutura, quanto para ouvir os pacientes em tratamento para a doença, aos quais foram aplicados questionários. O mesmo foi realizado em outros três municípios também prioritários: Canoas, Santa Cruz do Sul e Sapucaia. Roxana explica que através do estudo se buscou identificar por onde o paciente costuma passar até ser diagnosticado e também acompanhar pelo prontuário o tipo de abordagem utilizada.
A importância do levantamento, explica a professora, está na necessidade de se contemplar os dois eixos nos quais o combate à doença se baseia, a detecção e o tratamento. Quanto ao tratamento há uma maior dedicação, além de resultados positivos alcançados até hoje. Em Pelotas, por exemplo, foi ultrapassada a meta de 85% de casos de cura. No entanto, a detecção ainda precisa de atenção. Os resultados preliminares apontam que cada município se organiza a sua maneira e, dentro das cidades, cada unidade também. Nas UBSs pelotenses ocorre a solicitação direta do exame de escarro, primeira etapa para diagnóstico de tuberculose, e também o encaminhamento do paciente para o Programa de Combate à Tuberculose, ligado ao Centro de Especialidades, para que lá se solicite o exame, sem padronização.
Além disto, muitas destas unidades relataram ausência do livro de registro de sintomáticos e do formulário, ambos procedimentos burocráticos que irão armazenar dados e informações do paciente e serão importantes para a solicitação de exames e complementares para o tratamento. “Nós estamos em processo de elaboração do resultado final e o levaremos aos agentes, diretores e profissionais da saúde para que possamos debater as dificuldades e melhorarmos este eixo na cidade”, complementa Roxana.
A gerente em atenção básica da cidade, Eliedes Ribeiro, esclarece que as unidades têm autonomia para encaminharem diretamente o pedido do exame, assim como para decidirem qual será o procedimento aplicado. Eliedes considera também a política aplicada no município como satisfatória, principalmente com relação aos resultados referentes à cura e destaca a necessidade de se capacitar constantemente a rede para este tipo de diagnóstico e tratamento.
A pesquisa, intitulada Atenção primária à saúde na detecção de casos de tuberculose em municípios prioritários do sul do Brasil: desafios e investimentos em estratégias de informação, foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e envolveu profissionais, educadores e estudantes dos quatro municípios analisados.
A doença hoje
Para além do objetivo da pesquisa, Roxana conta que pode se observar a ideia dentro das unidades e entre os profissionais de que a tuberculose é uma doença ausente ou presa ao estigma que adquiriu há algumas décadas, de que está ligada ao uso de drogas ou de doenças imunodepressoras, como a Aids. Noções já ultrapassadas, segundo a professora. “A tuberculose é uma doença presente e tem mudado de cara. É claro que pessoas em vulnerabilidade social ou com outras comorbidades são mais suscetíveis, mas não são as únicas atingidas.”
Outro ponto que precisa ser desmitificado, aponta a doutoranda e participante da pesquisa, Jéssica Oliveira, é de que a pessoa precisa ficar isolada. O tratamento não envolve mais internação e dura seis meses, sendo que após os 15 primeiros dias já não há mais risco de contágio. Fatores que, juntamente com a melhora do serviço oferecido pela rede, contribuem para um combate efetivo à tuberculose, já que a falta de informação e até mesmo o preconceito afastam o paciente das unidades e do tratamento, como observaram as pesquisadoras durante o estudo.
Alguns dados preliminares da pesquisa
# Pelotas registrou 271 casos de tuberculose em 2015
# 247 em 2014
# A tosse é ainda o sintoma mais importante para o diagnóstico, seguido do emagrecimento e da febre
# 48% das unidades reportaram não ter livro de registro de sintomáticos
53% das unidades não tinham formulários
A doença
A tuberculose é uma doença infecto-contagiosa causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis ou Bacilo de Koch (BK), que afeta principalmente os pulmões, mas, também podem ocorrer em outros órgãos do corpo, como ossos, rins e meninges (membranas que envolvem o cérebro). É transmitida por via aérea em praticamente a totalidade dos casos. A infecção ocorre a partir da inalação de gotículas contendo bacilos expelidos pela tosse, a fala e o espirro do contagiado.
Em números
Aproximadamente, 66% dos casos de tuberculose notificados são do sexo masculino. A doença é mais frequente na faixa etária entre 25 e 34 anos - tanto para homens, quanto para mulheres.
O Brasil ocupa a 18ª posição em carga de tuberculose, representando 0,9% dos casos estimados no mundo.
O Rio Grande do Sul é o 7º Estado (dentre os 26 e o Distrito Federal) em coeficiente de incidência
Municípios prioritários do RS
*com maior incidência da doença
Alvorada
Cachoeirinha
Canoas
Gravataí
Guaíba
Novo Hamburgo
Pelotas
Porto Alegre
Rio Grande
Santa Cruz do Sul
Santa Maria
São Leopoldo
Sapucaia do Sul
Uruguaiana
Viamão
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